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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

2020, ANO PARA OUVIR, AVALIAR E ATENDER




OBS: Antes de tudo, para entender por quê não uso a redução teosófica (somar os números do ano e reduzir) quando reflito sobre o tom tarológico do ano, por favor veja textos meus de anos anteriores onde explico essa questão (tem no Clube do Tarô).

O ano de 2020, para mim, traz, não como “regente definidor”, mas como ferramenta essencial, O Julgamento. Carta vista como solene, dura e assustadora por muitos, este arcano, descartados os contraproducentes dogmas das religiões formatadas que, de resto, nem fazem parte da minha formação, fala, em seu lado luminar, da percepção esclarecedora de quem realmente somos, bem como do reflorescimento ou ressureição que disso podem decorrer. Julgamento alerta para a profunda importância do entendimento do que é uma convocação existencial, bem como da questão da vocação pessoal.

Não gosto de abordar o tarô coletivamente pois ele se apresenta, dentro da minha abordagem, infinitamente mais rico, acurado e produtivo quando aplicado individualmente e dentro do específico contexto do leitor. Mas posso presumir que, num mundo em convulsão como temos hoje, Julgamento efetivará o que o ano do Sol (2019) deixou visível. O problema, penso, é que estamos num limiar extremamente frágil, onde podemos ancorar mudanças radicais que nos tornarão verdadeiramente mais humanos, empáticos, igualitários e menos materialistas e epidérmicos; mas podemos, também, cair no engano de permitir a imposição de um estado tecnocrático, normatizador e robótico, que parecerá ter colocado ordem na bagunça, mas que na verdade apenas alijará, ainda mais, as cúpulas das massas e nos tornará um bando de fofoqueiros vigiadores do alheio, feito os denunciantes na Alemanha da Segunda Guerra ou os crucificadores adolescentes na China de Mao. Deixo, no entanto, ao saber do Mistério a etapa seguinte do planeta, assim como seus porquês, e concentro-me no trabalho do indivíduo, pois entendo que é da molécula que se faz o todo.

O encaixe das peças do nosso quebra-cabeças pessoal, peças que vamos apanhando ao longo das experiências, reações, sentimentos, processamentos internos, motivações subliminares etc se dá, a meu ver, no campo deste arcano. Tal encaixe, evidentemente, não pode dar-se de forma leviana ou superficial e, menos, sem a disponibilidade pessoal a uma avaliação isenta de todas essas questões, conscientes ou não, que vão dirigindo nossos caminhos. Nesse sentido é, sim, solene, por ser momento de seriedade ao lidar consigo mesmo. Porém, mais do que “colheita do que plantamos” no sentido de castigo, com aquele tom habitual de “agora a cobra vai fumar”, o XX abre o potencial de “sairmos do armário” em todos os sentidos.

N’O Julgamento somos chamados a sair do mundo dos mortos. Penso que isso é o fundamental: estamos vivendo como realmente acreditamos ser o viver? Viemos até este momento seguindo ditames anímicos, particulares? Ou vivemos como dizem que se deve viver, aninhando-nos no padrão do rebanho, deixando escondidos nossos sentidos mais genuínos, nossos desejos mais verdadeiros, nosso bliss, como diria Joseph Campbell? O que fazemos é fruto de quem somos ou você criou uma identidade profissional e atua tendo isso como referência e não a si mesmo?

Não raro, ao perguntar a alguém “Quem é você?” a resposta começa com “Eu sou engenheiro (ou médico, ou bailarino etc)”, quando na verdade sua profissão não define quem você é, apenas fala do que você faz como auto sustento. Vocação é ouvir um chamado e não necessariamente tem a ver com habilidades. Uma resposta mais adequada seria “Eu sou uma pessoa que preza a paz de estruturas sólidas, que tem necessidade de expressar-se em formas grandiosas, que aprecia tornar concretas certas ideias, por isso escolhi ser engenheiro”, por exemplo. Mas poderia ter sido pedreiro, carpinteiro, produtor de eventos grandiosos como shows ou casamentos etc. Ou “Eu sinto o desejo de tornar emoções em expressões corporais, realizo-me quando alcanço a demonstração de um sentimento num movimento, por isso escolhi ser bailarino”. Mas poderia ter sido mímico, diretor de cinema, ator, fotógrafo etc.
O arcano XX convoca: é hora de ouvir, avaliar e atender ao chamado da sua vida, justamente porque a vida terrena não é eterna. Costumamos deixar para o futuro anseios pessoais, em prol de caçar o que é valorizado dentro de um sistema que prioriza a matéria e a posse: estabilidade financeira, medidores de sucesso (títulos, cargos, casamento, filhos) etc. Vivemos como as crianças que comem primeiro o espinafre para só então terem direito à sobremesa. Mantemo-nos, em geral, seguindo o padrão do “dever primeiro, o prazer depois” (e isso se ele for possível, caso contrário contente-se com a promessa de vida eterna e aprazível, nalgum lugar vago e improvável, depois que você morrer...). A maioria deixa para ser quem é, criar e expressar o que efetivamente sente quando se aposentar, ou quando alcançar certo montante de dinheiro como reserva, ou quando os filhos crescerem, ou quando os pais morrerem e por aí vai. O resultado, como se pode imaginar, é o que mais vemos por aí: vidas pequenas, caminhos aquém dos talentos, objetivos michos e, o pior, frustração e desalento especialmente na terceira idade.

Arcano XX parece berrar que a hora é agora. 

Conexão consciente com o presente é vida vivida e fruída no momento em que ela ocorre e alinhada com os seres únicos que somos. Viver é consciência aplicada no ato do viver e não o adiamento pela presunção teórica de um futuro onde então poderemos viver. Lembre-se: não há, em todo o planeta, absolutamente nenhum ser igual a você. Você é único e tem algo único a oferecer e realizar. E passos falhos passados não definem seu caminhar eternamente, são aprendizados apenas. Porém, têm que servir para escolhas melhores no agora ou terão sido um desperdício do seu próprio viver.  
Então pergunte a si mesmo: Você tem feito escolhas e vivido de forma coerente com seus desejos mais elevados? Somos orgânicos, seres em constante transformação. Os princípios que guiaram seu foco até este momento ainda são válidos? Você ainda é quem era há alguns anos para seguir vivendo como vivia então? O que você realmente deseja produzir, criar, expressar e experimentar durante esta experiência sublime que é a encarnação? Fundamental: O que te dará a sensação de júbilo, completude e satisfação quando a trombeta derradeira soar?...

Este ano, minha sugestão é que façamos essa avaliação e que abracemos a coragem que advém de aceitarmos a inexorabilidade da finitude para completar esse encaixe das partes que nos tornam um ser incomparável – e sê-lo! Um ser capaz de alçar-se acima da mediocridade e da baixa vibração e que, assim, pode melhorar, também, o entorno.
Dirigentes mundiais nos estrepam ou acolhem a seu bel-prazer e será difícil mudar isso, como a História comprova. Mas na matrix do seu caminho individual, que é o que realmente importa diante do Mistério, é você que produz a maior parte do caminho. Portanto, sofistique o entendimento de quem você é, humanize sua interação e viva de forma mais amorosa e inteligente, consigo e com os outros. É essa a forma mais elevada espiritual e concretamente de nos prepararmos para a próxima etapa, tanto individual como coletivamente.
Spoiler: 2021 vai finalizar um ciclo, a meu ver. Em sua vida particular isso poderá abrir a celebração ou a dispersão. Será completude e o início de uma nova e boa fase, ou será angústia e perda de sentido. Use 2020 para se entender e vá ser, finalmente, o que veio ser.

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