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domingo, 20 de novembro de 2011

RAÍCES

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     Encontrei, no maravilhoso site do Clube do Tarô, um ótimo texto do experientíssimo Nei Naiff sobre a grafia correta da palavra “tarô”.
     O autor discorre e comprova os porquês de “tarô” e não “tarot”, na verdade algo que acaba soando como o óbvio que não tinhamos notado, mas só depois que alguém tão diligente explica isso com tantas minúcias.
     Mesmo percebendo tudo isso, levei uns minutos para entender porque fiquei indignada e confusa, até que algum insight me trouxe de volta uma cena muito antiga.
     Eu devia ter uns 15 anos e escrevi femenino em algum texto, o que levou uma amiga minha a gargalhar escancaradamente sem que eu entendesse patavinas, para usar uma expressão que ainda existia. Ela ria e dizia: “FeMEnino!!! Quáquáquáquá”, também para usar a gargalhada da época, que não era “kkkkk”.
     Fiquei, então, indignada e confusa, exatamente como me senti ao ler o texto do Nei. E levou um tempo até que eu percebesse que tinha escrito “feminino”, mas em espanhol (sou filha de argentinos e aprendi primeiro o espanhol, depois o português, é bom esclarecer).
     O que aumentava minha confusão é que, enquanto ela ria, vinham-me à cabeça os tantos anos escolares até aquele momento: porque será que ninguém corrigiu isso antes? Será que não calhou de eu ter escrito femenino em nenhuma redação nas aulas de português? Ou os professores relevavam por saber que eu era de família estrangeira? Nada disso fazia muito sentido. O mais provável é que eu alternasse as línguas em algumas palavras, sem perceber, escrevendo às vezes feminino e em outras femenino, e que ninguém tinha corrigido isso antes sabe-se lá porque. Percebi, então, que o mesmo tinha acontecido com a palavra “tarô”.
     A vida toda, na minha casa, nos referimos a esse baralho como Tarot, porque assim é em espanhol. E muitas vezes, embora nem sempre, escrevemos Tarot, com T maiúsculo, porque é uma forma para representar, literariamente, certa reverência. Porém, como gosto e respeito as línguas, bem como o exercício acurado do vocabulário, ainda que deteste o estudo formal da gramática, evidentemente concordo plenamente com o texto do Nei Naiff. Fiquei, no entanto, encalacrada entre essa concordância e o fato de que, ao tentar trocar todos os Tarots por mim escritos (os títulos e afins), por tarôs, simplesmente não consegui. Meu espanhol primordial fica absolutamente incomodado e não consegue submeter-se à grafia em português. Maluco, eu sei, mas assim é para mim. O melhor que posso fazer, portanto, é intitular este blog em espanhol, para justificar minimamente, ao menos no mundo virtual, porquê o meu tarô insiste em ser tarot (esperando que isso chegue até os leitores do meu livro, cujo título, "Tarot Luminar", tampouco mudarei).
     O que tudo isso me fez perceber, é que por vezes ficamos tempo demais tentando decifrar os mistérios filosóficos ou esotéricos sobre "de onde viemos" e "para onde vamos" e invariavelmente esquecemos de relembrar de onde viemos concretamente, investigação que nos dá dados fundamentais para compreender mais claramente parte do que somos e, portanto, do que vivemos no presente.