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quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Se não tá bom, mude!




Há uns 25 anos atrás, Natal era mais curtição que pesadelo. A maioria das pessoas gostava do Natal, juro (mas, também, há 25 anos atrás a vida era mais curtição que pesadelo. Sério.) 

Hoje, o que eu mais vejo é gente reclamando das passas na salada, reclamando dos papos serem sempre os mesmos, reclamando do amigo secreto, reclamando de ter que encontrar a família. Ao mesmo tempo, montes de fotos de "almoço de Natal da firma" inundam a rede, todo mundo sorrindo e abraçado, como se almoçar com chefe, nesse calor do cão, com aquele ódio de ter sido obrigado a trampar até dia 23, quando tudo já estava em ritmo de férias, não fosse um pé no saco, pra dizer o mínimo. Sim, há casos em que o ambiente de trabalho é mesmo algo diferente, divertido e agradável, mas a quantidade evidente de funcionários baba-ovos natalinos que pululam nesta época do ano é algo patético.


Chuto que 80% do nosso tempo, atualmente, é gasto em caçar dinheiro. E aí, na hora de curtir uma data como o Natal, com tantos significados bacanas em várias religiões e afins, só o que se faz é transformar isso em mais uma enorme tarefa chatérrima e aí, claro, execrar tudo.


Estamos tão afastados da Vida, tão distantes do interesse sincero pelo outro, tão absorvidos, tentando manter o próprio umbigo fora da lama, que toda interação enfada. Fingir que adoramos os colegas da corporation enquanto puxamos o saco de chefes que desprezamos é como morrer um pouco todo dia, então isso faz com que toda relação pareça, a priori, mais uma dinâmica insuportável.


Gente do céu: TROCA DE VIDA, porra! Ou, ao menos, tenha o culhão de trocar ALGO de peso na sua vida. Porra.


Sabe quantos conseguem realmente acabar a vida tomando piñas coladas e olhando o azul do Caribe, comendo lagostas e não tendo que lavar louça nunca mais? Olha em volta e me conta quantos você conhece pessoalmente.

Hello.




A gente precisa parar de se contentar com pouco, mas é no agora e não só no futuro. Precisa parar de se achar um zé mané sim-sinhô e de se submeter a viver com metade do corpo já enterrado, na esperança desse sacrifício existencial garantir uma velhice confortável. Isso é nonsense total. Mal viver agora em prol de talvez viver mais ou menos lá adiante? Que sentido tem isso, me diz? Viver, então, é morrer de medo de viver e de morrer? Isso é loucura, pura e simples. Precisamos entender que NÃO encarnamos para reverenciar o trabalho que não é uma realização pessoal, ou, ao menos, que não é uma completa estupidez. Se não tem coragem de ir atrás do que realmente quer fazer, tenha a dignidade de achar algo que não te seja completamente abjeto. Algo que não torne o ato de acordar um horror. Não, não é fácil, mas se entender com a vida não é tarefa pra preguiçoso, desculpa aí. Pare de se enganar: batalhar a sobrevivência é importante e coerente; dar a vida inteira a um job totalmente imbecil, pela ilusão de uns anos de folga ou da imortalidade, é um sacrilégio. 


Idem em relação ao Natal e às interações. O Natal da sua família é chato porque tem gente chata? Não vá. Ou avise que se fulano for, você não vai - e cumpra. Faça uma noite gostosa na sua casa e dane-se a obrigatoriedade da data. Cate amigos na mesma situação e divirtam-se. Vá viajar. Sequestre os parentes que ama e faça outra coisa. Ou vá, beije os amados, diga que está com enxaqueca e se mande para algum boteco bão. Tome um Rivotril e vá dormir o que não dorme no ano. Sei lá. Mas saia do espírito bunda-mole e faça um Natal decente, em vez de apenas reclamar do que costuma ter, se ele é realmente tão ruim assim. Porém, antes, repense se ele é mesmo isso tudo de péssimo. Talvez seja. Nesse caso, livre-se dele, vire gente grande, mude a porra do Natal. Mas também pode ser que ele seja ruim porque nós é que estamos nos tornando absurdamente egocêntricos, mesquinhos, desinteressados, frívolos. Cheque, antes, o quanto da sua compaixão sumiu, o quanto do seu coração se dissolveu, o quanto da sua gratidão se desfez. Nesse caso, em vez de mudar o Natal, mude a si mesmo.


Hoje, meu Natal é pequenininho na forma, mas pleno na sua real função. E este ano não vou cozinhar peru, lombo ou tender, simplesmente porque não estou afins. A gente vai comer uma salada crocante, um peixe sensacional, uma mousse de limão ótima pra esse calor e vai conversar e se conectar com a vibe bacana dessa data. E depois, talvez, cada um vá jogar, ler ou fazer o que for afins. Natal, aqui, é pra ser de paz. É para relembrar quem somos e a quê viemos. É para lembrar dos que já se foram com humor e carinho e para demonstrar a gratidão pelos afetos que ainda podemos desfrutar. É para rever se estamos sendo amáveis conosco e vivenciando como se deve a bênção da estranhíssima experiência terrena. 

Natal, pra mim, é o arcano V, O Papa: é para passar a vida a limpo e para checar se estou indo bem no caminho de equilibrar as pontas.

Feliz e pacífico Natal a todos!