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Atenção: bom senso é fundamental!





Crítica à parte da Nova Era, seu "New Obscurantismo" embutido 
e sobre a urgência da restauração do equilíbrio e do bom senso.


Podemos então dizer que o racionalismo é uma atitude de disposição a ouvir argumentos críticos e a aprender da experiência. É fundamentalmente uma atitude de admitir que ‘eu posso estar errado e vós podeis estar certos, e, por um esforço, poderemos aproximar-nos da verdade’” (Karl R. POPPER apud ROCHA, 2002, p. 94).


      Desde que o ser humano sentiu-se intrigado diante da morte e passou a enterrar seus companheiros mortos, floresceu o que podemos chamar de sentimento religioso. De não compreender algo a creditar a esse algo um poder mágico, é um passo. Disso a temê-lo, meio passo. A subserviência diante das questões chamadas "espirituais" vem do medo: medo da morte e do que vem depois dela. O obscurantismo se dá, portanto, pela permissão que quem tem medo outorga àqueles que dizem "saber" o que há depois da morte. E, ainda mais atraente, que alegam "saber" como fazer para que esse "depois" seja bom.

      Contra o obscurantismo só se pode contrapor o esclarecimento. Porém, um esclarecimento verdadeiro, quando não acontece desde a infância, leva muito tempo e demanda a atenção concentrada de quem o recebe. Enquanto isso, o medo cresce em proporção desigual, fomentado pelos que tem interesses em que ele permaneça - como também pela profunda preguiça dos que temem. Afinal, é sempre mais fácil seguir a alguém, do que abrir caminho por si mesmo.

      Mudaram os tempos, mas... Mudamos nós?

http://psyamada.blogspot.com.br/2011/07/busca-do-equilibrio.html

      Uma tal Nova Era aparece e, com ela, novas informações, novas sugestões de reflexão. Agora é você que é responsável pela sua vida, pela sua realidade, por cada experiência que vive, pela sua morte e, seguindo uma lógica duvidosa, pelo seu "depois". O indivíduo passa a ser o projetor, o criador da própria realidade, bastando-lhe, apenas, direcionar um poder mental que sempre teve, embora não tivesse consciência disso. A ideia de Deus é empurrada para um lugar vago, variando de ausente a parceiro de equipe na criação da vida, embora alguns ainda o considerem onipotente, sem explicar coerentemente essas posições contraditórias.

      As novas ideias pretendem esclarecer o ser humano do terceiro milênio, tirá-lo do obscurantismo do rebanho que apenas segue sem questionar, sem experimentar por si mesmo, o que, em si, é um objetivo louvável. Para fundear as bases de sua argumentação, entretanto, muitos adeptos deixam de lado o bom senso, dragam conceitos de todos os cantos da Terra, de tribos diversas, de todos os tempos, alimentando a fusão num cadinho confuso, cujos efeitos são, na verdade, arriscados. De boas intenções o inferno está cheio.

http://www.tumblr.com/tagged/call%20it%20karma

      Boa parte dessa Nova Era perde-se particularmente quando calca-se na má interpretação do conceito oriental de karma e, por isso, transforma-o naquilo que sua psique ocidental consegue compreender: os ancestrais sentimentos de culpa e punição, erro e castigo. Agora travestidos de responsabilidade e consequência, respectivamente, os dogmas básicos da maior parte das chamadas "religiões dos livros" são, na verdade, reinventados - para usar um termo contemporâneo. No fundo, são apenas mantidos e reapresentados sob roupa nova.

      Para essa mente ocidental, sistematicamente impregnada há milênios com esses preceitos fundamentais de "erro que gera castigo", tem que haver uma explicação sobrenatural sobre os porquês de tanto horror no planeta e de tanta dificuldade na própria vida individual, já que movimentos anteriores, políticos ou filosóficos, aplicados na prática, não se provaram eficazes em erradicar o mal da Terra. Muitos retrocedem e acabam pensando de maneira simplista: "Os homens continuam explorando os homens; as guerras devastam países inteiros; a sobrevivência está cada vez mais difícil e revolução alguma deu jeito, ação concreta nenhuma provou-se eficiente. Novas doenças surgem, velhas doenças ressurgem e a ciência é ainda incapaz, a esta altura, de realmente nos defender. Portanto, a razão real de tanto sofrimento, de tanta dificuldade, só pode estar naquilo que não é palpável: só pode estar no chamado mundo espiritual." Como disse antes, de não compreender algo a creditar a esse algo um poder mágico, é um passo.

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      Como um novo caminho salvador, um Rei Artur ou um D. Sebastião, muitos adeptos da Nova Era alegam que basta mudar o pensar racional e com isso mudar a realidade. No fundo, a maior parte dessas novas "informações" acena fórmulas mágicas: faça xis e resolva seus problemas. De quebra, estabelece que aquilo que o "novo indivíduo" não conseguir resolver, é porque é carma (com "c", para diferenciá-lo do karma do conceito original), isto é, pertence à categoria da "consequência de escolhas erradas em vidas anteriores". Qualquer um que tenha um mínimo de capacidade de reflexão pensará: "Mas então os horrores vividos por todos os iraquianos, afegãos, judeus, palestinos, africanos, índios, miseráveis etc., são resultados de escolhas erradas em outra encarnação?? E todas as crianças do Malawi e do Timor Leste, erraram elas também?? Todos os vitimados mundo afora cometeram erros em vidas passadas e agora vivem com as consequências disso??". Ao que ditos adeptos respondem: "Ah, bem, quando é assim, uma tribo inteira, é "carma coletivo". Só posso pensar: "Ah, então tá...".

      A realidade é que nada disso difere de como o ser humano ocidental vem encarando a vida há milênios. Temos novos bispos, rabinos, padres, Papas e jesuítas, agora vestidos como sábios de uma Atlântida idealizada, gurus indianos ou xamãs africanos. Vem com discursos suaves, profusos em frases de efeito, lógicas sofismáticas e clichês facebookianos, plantando as sementes de que os problemas que você enfrenta não são obra da ganância político-econômica dos dirigentes, da sociopatia geral que leva ao absoluto desinteresse pelo semelhante, do mal como força operante, da sombra psíquica individual (que não se dissolve apenas por ser rejeitada), nem sequer do acaso. São resultados do que você pensa e do que você fez... em encarnações passadas. De novo, só posso dizer : "Ah, bom...". E tampouco posso deixar de perceber o óbvio: o quanto essa forma de pensar isenta a qualquer um que a propaga de se envolver e fazer algo concretamente para ajudar os que sofrem. "É seu carma, sinto muito, vire-se". Simplesmente hediondo. E uma pilantragem.

      Parodiando Vinícius, os burros que me perdoem, mas bom senso é fundamental. Há muita coisa interessante e proveitosa nesses novos caminhos de reflexão. Há mesmo grandes ensinamentos. Mas o que uma era realmente exige para ser nova é a libertação do ser humano da mente de rebanho. Uma Nova Era genuína exige disponibilidade e atenção às novas ideias, mas acima de tudo exige discernimento. O famoso caminho do meio é essencial para o surgimento de novas dinâmicas de interação, de novas óticas e de novos seres. Precisamos parar de agir e pensar automaticamente, comprando prontos os slogans que nos convém.

http://umaperspectivadavida.blogspot.com.br/

      Não é porque extrato de própolis realmente debela uma inflamação na laringe, que toda a medicina alopata deva ser condenada; assim como não é porque alguns tipos de câncer são vencidos pelas armas alopatas, que tratamentos naturais devam ser desdenhados. Não é porque padrões de pensamento interferem em comportamento celular, como foi comprovado cientificamente, que basta mudar o pensar racional ou consciente para mudar o corpo e a realidade concreta. Não é porque o ego ocidental costuma dar golpes de estado na psique, e passa a ser o único guia, que o novo Judas deva ser o ego e que sua eliminação deva ser o novo Graal. Não é porque algum novo pensador diz algo que presta, que toda a sua tese deva ser engolida sem questionamento. Não é porque sua vida é calcada no racionalismo materialista e vai muito bem, que isso comprova a inexistência do espírito. Aliás, não é porque algo serve perfeitamente para você, que isso o torna uma verdade absoluta no planeta, nem mesmo quando serve para muitos. "Muitos" não é igual a "todos". E entenda isso de uma vez: não há uma verdade filosófica única que caiba e sirva bem a todos.

     Um fato imutável é este: enquanto as pessoas quiserem que outros lhes entreguem uma filosofia, ideologia e crença (ou seja: uma mente) prêt-à-porter, como uma roupa já pronta num cabide, o insidioso pensamento manipulador de cunho "religioso" ou pseudo espiritual continuará a se espalhar subliminarmente, permitindo que a sombra geral permaneça em desequilíbrio.

      Uma teoria, uma filosofia, uma ideologia e mesmo um pensador, por melhores que sejam, absolutamente não conseguem cobrir de verdades todas as áreas da humanidade. Temos que pescar, em cada um, o que apresenta de melhor. E descartar, sem medo de errar, aquilo que evidentemente não serve. Isso demanda a sua participação, a sua reflexão isenta e a sua conclusão autônoma.

      Isso é bom senso.

Um comentário:

  1. ótimo Ivana. Bom senso é difícil. Mais fácil é comprar idéias prontas.
    david

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