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sexta-feira, 31 de julho de 2015

O poder do indivíduo sensível

http://nigeriarealestatehub.com/foreign-artisans-send-home-n900bn-from-nigeria.html/

Este texto é para quem, às vezes, se perde. Para quem, em alguns momentos, sente tanta tristeza que pensa que não vai poder prosseguir; ou para quem chora de repente, tomado de emoção intensa, sem saber bem por quê. Falo, aqui, para quem por vezes não vê mais sentido algum em apenas continuar acordando, day after day. E que, no entanto, acorda. E que, no entanto, de repente se refaz. Falo para quem de vez em quando sente o astronômico peso da sombra do mundo e de si mesmo, mas que, ainda assim, nunca, jamais, deixa de perceber o estrondoso brilho benéfico que a isso naturalmente se contrapõe. Se você acessa esses momentos sombrios, mas é capaz de se reerguer apenas pelo valor do lado luminar, isso não é depressão, nem demanda pílulas. Isso é apenas a soma de uma natureza artística, sensível, aliada ao dom da percepção da realidade. 


http://social.yourstory.com/2013/06/how-government-private-sector-and-non-profit-entities-are-supporting-indian-artisans/

A gente tem que colocar algum parâmetro, só para não ter que remontar até o tempo em que só havia o Verbo, então vamos dizer que desde a Revolução Industrial o ser humano vem tentando padronizar tudo. O leite, os ovos, as roupas, o material escolar, os comportamentos. Padronização é coisa que assegura (em teoria) alguma defesa contra nossa própria tendência ao caos. Um bando de zebras convive num Anarquismo ideal. Já bandos humanos em dois palitos transformam tudo em baderna e provavelmente (ainda em teoria) exterminam-se mutuamente até restar um único idiota que acaba se matando por medo da solidão. Sim, porque o que Jung chamou de "branco europeu" parece ser burro a esse ponto.

Porém, padronizar busca um produto final "perfeito", eliminando os "erros" da inconstância humana. Assentar regras e igualar execução faz com que todo produto seja igual.  Evidente que teríamos que abrir mil latas de ervilha e ver se todas contém exatamente o mesmo número de grãos, mas a ideia é que elas têm. É o que faz você comprar qualquer uma delas, pois são todas iguais. Antigamente, você compraria ervilhas frescas a granel, o vendedor pesaria o produto e você levaria quanto quisesse e pudesse pagar. Mas isso não dá tanto lucro quanto fazer produtos que nunca contém o suficiente, fazendo com que você sempre tenha que comprar mais um e depois ficar com aquele tupperware segurando restinhos pentelhos, mas isso é outra história.


http://wtffunfact.com/post/87127330142/technocracy-movement-replace-politicians-with-scientists

O grave problema da ditadura da Tecnocracia (e ela é um movimento que apareceu, morreu e ressuscitou a milhão, não se engane) é que se você entrega o governo do mundo a um técnico ele criará um mundo técnico, isento de inconstâncias humanas. Funciona muito bem para regrar o metrô, ou programar faróis de trânsito. Na verdade, funciona muito bem para quase tudo, não fosse o detalhe de não deixar lugar para o real ser humano. A menos que você adore uniformes, ter cada passo seu pré-determinado e viver como uma máquina que apenas funciona, sem nada sentir, o mundo em estamos nos tornando é intragável. Para os que, dentre nós, tem natureza artística, e somos muitos, muitos mais do que apenas os expoentes ou famosos, este mundo tecnocrático está sufocantemente insuportável. 

Mas acho que o perigo maior está em se deixar enganar, ao permitir que esse mundo aparentemente perfeito nos faça pensar que os errados somos nós. E, pior, que não temos chance contra isso.


http://www.thesweetestoccasion.com/2010/02/homemade-jam-recipes-diy-jam-jar-labels/

Os amantes da Tecnocracia querem nos fazer crer que o mundo regrado em cada linha, lotado de brinquedos tecnológicos, apresentando criancinhas creepy fazendo coisas impressionantes feito coisa de circo (como se um Mozart tivesse sido pouca porcaria), aplaudindo o transhumanismo (vá pesquisar; é de cair o queixo), destituindo o valor do tempo e da experiência, apresentando moradias com 18 metros quadrados como algo genial e gerando hordas de semi-espiritualidades que papagaiam coisas que as pessoas nunca aplicam na própria vida, bem, querem nos fazer crer que isso tudo é algo bom, belo e humano. O melhor dos mundos possíveis. Não é. O mundo muda sempre e, desta vez, essa é a nova onda, ok. Mas não é belo, não é bom e não é humano. 

E os que percebem a destruição do valor da individualidade, que percebem a perda da delicadeza que o toque pessoal dá a cada criação, tornando-a única, que percebem a ausência de arte nas produções em massa, que percebem a gelidez que insidiosamente vai possuindo o ser humano, esses sofrem, sim, como sofreram os artistas em todas as pseudo-evoluções anteriores. E somos nós, seres sensíveis, os que ainda criam esferas de cultura verdadeira, oásis de troca interpessoal de qualidade e espaços de contraponto a essa sombra que pretende dar um golpe de estado.


http://littlewoollie.blogspot.com.br/2013/05/crochet-star-making-tutorial.html

Portanto, se você é um desses que às vezes acorda chorando e sentindo tão claramente o peso da Besta, saiba que você, surpreendentemente, consegue se reerguer porque é pra isso que ainda aqui está: para rir da imensidão sombria apenas por fazer um livro bonito, uma almofada de crochê, um pote de geleia caseira que nunca é igual ao anterior, um grupo de dança, uma troca inteligente de saberes, um almoço amoroso para familiares ou um puro, simples e honesto acolhimento a quem de vez em quando cai.


http://www.writingforward.com/writing-tips/the-22-best-writing-tips-ever

O poder de frear a "deshumanização" e a massificação ditadora está, simplesmente, em alimentar a própria sensibilidade e em produzir o que só você sabe fazer e que é tão especial, porque você é único.

Patricia Fox https://www.youtube.com/watch?v=IE4ZPZJ2snA