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sábado, 4 de fevereiro de 2012

Volare. O Louco explica o Amor

http://can-express-yourself.blogspot.com/2011/12/gimme-freedom.html

    
    O amor pede generosidade, empatia, gentileza, expressão, autonomia das partes e, o fundamental: liberdade. E, evidentemente, não tem nexo algum exigir, automaticamente, durabilidade de um quadro desses.

    Para que o amor perdure, é necessário que a sintonia entre os amantes mantenha-se sem nunca perder a força e, em geral, isso não ocorre pelo fato simples de que, vivos, somos movimento, mudamos constantemente, mesmo sem perceber. Sim, alguns pares mantém essa sintonia e sem que isso implique em estagnação. São os amores de muitos anos que eventualmente vemos por aí, mas o problema está no fato de que algo existir não implica em que certamente vá existir na vida de cada um de nós e, menos, para sempre. O premio da loteria existe, alguns ganham, mas nem por isso todo mundo garantidamente ganha uma vez na vida. É mais provável ganhar pequenos premios do que aquele acumulado, aliás. Por outro lado, também é certo que tsunamis também existem, mas nem por isso todo mundo fatalmente enfrentará um.



    Fábulas e contos catequizam-nos desde cedo dizendo-nos que basta apenas esperar “a pessoa certa”, mas isso simplesmente não é verdade. Como também não é verdade que sem isso a vida não tem sentido, o que é bem mais importante. Querer uma companhia é uma coisa, mas quem depende desesperadamente do amor do outro, ou de fora, para reviver, encontrar sentido ou júbilo na vida, é porque não o encontra em lugar algum dentro de si mesmo, para começar.




    Acho que importa, antes, vasculhar o que esperamos quando procuramos o Graal do amor. Nove vezes em dez, não é conhecer o outro, revelar-se ao outro, interagir realmente com o outro. Não é, tampouco, a reenergizante experimentação de um romance o que queremos, mas o amor idealizado, literalmente fabuloso, que traga consigo todas as respostas emocionais e existenciais e, ainda por cima, para sempre. 



http://www.caminhodesantiago.com/walter_jorge/santo_graal/19_santo_graal_xviii.htm

    Na verdade, quase sempre o que fazemos é depositar no outro a responsabilidade total pela nossa completude e felicidade e esperar que, "amando", o difícil desapareça e tudo seja maravilhoso. Além disso, como se o estado amoroso tivesse poderes mágicos, acreditamos que ele combate o envelhecimento e a morte. Ou melhor: que ele impede isso. Bem, assim como uma droga, essa sensação até dura, sim, um tempo, mas, como não está baseada na realidade e como o ser humano é bem mais do que apenas a expressão de seus desejos egoicos, ali adiante fica impossível manter a ilusão. Essa projeção inconsciente, com o tempo, invariavelmente leva qualquer relação a um desgaste, que varia da mera frustração à sensação de carregar um fardo.



http://www.dailymail.co.uk



    Do ponto de vista da estabilidade, o amor simplesmente não é confiável: ele acontece ou não acontece, pode começar e pode acabar, simples assim. E é imprescindível entender que há uma diferença fundamental entre "relação" e "amor": até podemos batalhar para que a relação não se desfaça, desde que ela contenha laços para além do romance, do tesão ou da paixão, mas é bem pouco o que podemos fazer para impedir que o sentimento amoroso, em si, acabe, porque, ouço do Louco, ele tem vida própria.   

    Quando nossas motivações estão unicamente centradas nos caprichos do ego, e para a maioria de nós quase sempre estão, amar sem se apegar é um desafio titânico e a comoção abrupta do fim do amor, ou o aprisionamento (esse sim, às vezes, para sempre) ao sofrimento decorrente de um amor terminado é, como acontece com as drogas, o drama do fim da ilusão, pois na verdade revela nosso ser fragmentado e dependente, cujo centro da vida é depositado em algo assim volátil.

Perceber isso é ficar livre e poder voltar a voar.