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terça-feira, 27 de outubro de 2015

Os abraços de Isabel


http://corinazone.deviantart.com/art/Complementary-soulmates-and-their-cosmic-love-480201222

Você lembra o gosto do abraço? Acessa fácil a memória daquele sentimento que rola quando alguém acolhe você incondicionalmente, num abraço comme il faut? Se não lembra, ou se não liga muito pro tema, como sempre digo, vá ler outra coisa, porque isto aqui é pra quem ainda não virou um replicante.

Vivendo fora da big city a gente muda o olhar. Não tem nada a ver com bom ou ruim, isso existe em qualquer lugar, mas é fato que ao sair da zona loka a Natureza refina o filtro e a gente passa a perceber certas paradas. 

A vida sempre me pareceu uma cornucópia de onde brotam casos e eventos dignos de nota. Mas o que mais me move (ou comove) são as interações. A troca de vibes e ideias é o que, penso, há de mais brilhante neste mundo encarnado. Porém, a coisa toda demanda pessoas plugadas; gente que está mentalmente aqui, neste exato e preciso momento, e que ao mesmo tempo não orbita em torno do próprio umbigo. Gente que navega, mas não é virtual. Olham nos olhos, ouvem o que você diz e dizem o que realmente sentem. Mais, até: pessoas que sem dizer nada, sem que você tenha que dizer nada, escutam tudo e te dizem tudo num abraço. 

Eu abracei e ganhei abraços desse tipo de muitas pessoas nesses últimos dias em Sampa. Dos adultos todos eu vou contar histórias adiante, porque todos me deram coisas pra sentir e contar. Interagi com pessoas absolutamente lindas. Mas o que me fez sentar pra escrever primeiro foram os abraços de Isabel. 

Antes de tudo, é bom dizer: eu não sou, absolutamente, uma deslumbrada com crianças. Na maioria delas não detecto nada lá muito interessante, posto estarem, quase todas, totalmente programadas pela tv e afins. Portanto, em geral, acho criança um troço meio mala, na contra-maré contemporânea de endeusar qualquer ser abaixo dos 18. Bom, eu to sempre na contra-maré, querendo ou não, modos que dane-se.

Mas Isabel é outro babado. É um ser que genuinamente pulsa afeto e curiosidade pela vida. Desprovida da acidez da desconfiança habitual de quem tem que esgrimar numa cidade pirada, evidente que ela transparece a proteção que recebe, mas esse foco de celebração anímico é algo lá dela. O que eu vi é que ela veio pra relembrar ao mundo a visceralidade do afeto e da confiança. Ela simplesmente emana a mensagem de que a trolha toda vale a pena, ponto.

A maioria dos tarólogos, pelo que leio por aí, não gosta muito da Temperança, enquanto eu gosto muito (a contra-maré, pois é). Também não sei se a mãe dela, taróloga de alta casta e que respeito e gosto demais, vai torcer o nariz, mas é isso que vi Isabel cintilar: o afeto iluminador do acolhimento pacífico desse arcano. 

Não porque ela me abraçou tão completamente sem me conhecer, mas porque ao fazê-lo eu me vi literal e magicamente transportada para um oásis suspenso no ar, onde naqueles segundos eu era querida apenas por ser e podia querer bem porque sim. Nesse lugar não tem relevância a gente ser gorducha, descabelada e socialmente bipolar, nem se a gente é tão jeitosinha que chuta a mesinha de centro quando cruza a perna. Ali, só uma coisa é decantada: o valor da alma, o valor do polimento da alma. 

Porque pra isso estamos, pra isso viemos. As deturpações alucinadas que disso fizemos são coisa da gente ter se estrepado, perdido e sofrido, gerando um loop pentelhíssimo, quando não nocivo. Mas não é isso o que nos define, nem é o lugar pra depositar nossas fichas. Viemos pra exercer o melhor de nós e pra nos estimular a ser isso, não pra mutuamente nos impedir de ser. A vida não é uma fucking gincana. A gente precisa, simplesmente, parar de ser indulgentes com a loucura, nossa e alheia.

Isabel e seu abraço absoluto, literalmente sideral, me relembrou a frase que um dia ouvi da minha mãe e é a frase da Deusa, a mensagem primordial da Vida; é o recado angelical que resume e sussurra: você é ótima. 

Isabel é ótima, eu sou ótima, somos todos ótimos, enquanto pudermos lembrar de abraçar e receber abraços desse jeito luminar. 

Isabel será muitas coisas boas, mas prevejo que antes de qualquer uma delas será sempre a terapeuta do acolhimento que já transparece ser. Eu tive o privilégio de ganhar isso agora. E ainda estou grata e encantada.


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Em tempo: o blog da fofa da mãe está out, modos que não tive como checar se Isabel é com S ou com Z. Arrisquei o S, qualquer coisa corrijo.