O caminho d'O Enforcado, arcano XII:
http://www.artbible.info/art/large/556.html
Faço,
de saída, uma ressalva: particularmente considero este um arcano
dual, assim como a Torre. Acredito firme e absolutamente que
nem todo evento ou experiência são de responsabilidade unicamente
nossa, nem mesmo num sentido mais subliminar ou subconsciente.
As
elaboradas, porém frágeis, explicações de certas linhas
espíritas, ou a aplicação errônea do conceito oriental de karma,
por melhores intenções que eventualmente possam alegar, parecem-me
francamente falíveis ou, no mínimo, passíveis de debates eternos e
impossíveis de apresentarem conclusões cabais.
Há,
portanto, certos eventos que credito aos mistérios, cujas razões ou
funções nos são, ao menos com o entendimento terreno que podemos
ter, incompreensíveis, inexplicáveis e, muitas vezes,
inaceitáveis, embora esse sentimento não os impeça, nem
solucione.
Sempre
que falo d'O Enforcado, portanto, refiro-me àquilo que realmente nos
cabe, ao que podemos manipular e que encerra nossa palpável parcela
(ou totalidade) de responsabilidade.
Nesta
imagem ("A
Parábola dos Cegos",
Pieter Bruegel), a primeira evidência é a reação
em cadeia.
Sabemos que o último homem da fila fatalmente cairá, a
menos que largue mão do
bastão, sua conexão com os
que caíram antes dele.
Podemos, então, entender como algo simbólico, representativo de
que ele
cai ou sofre, por agarrar-se ao que já foi.
Num
primeiro momento, é provável que nosso impulso seja a compaixão -
afinal, o pobre homem não pode ver e, na verdade, se nos
colocássemos em seu lugar, sentiríamos autopiedade.
No entanto, como observadores, perguntamo-nos porque
ele não larga o bastão, ao primeiro sinal de instabilidade? O
que foi feito de seus outros sentidos? Não
pôde ele sentir o tremor ou ouvir os gritos dos que, adiante, caem?
E, antes de tudo (forma
mais adequada do que "antes de mais nada", que meu amigo
anônimo me ensinou...rs) porque,
em primeiro lugar, optou por prender-se a
essa corrente?
Certamente o personagem nos daria uma longa lista de desculpas
e justificativas,
e, diante daquele a quem consideramos como vítima, é
realmente difícil
argumentar logicamente.
Quem
é vilão e quem é vítima: o primeiro, possivelmente o utópico
idealizador dessa
cadeia fadada ao fracasso, ou o último, que alegando
boa-fé ou inocência, no fundo acaba sendo apenas
irresponsável consigo mesmo? Na
visão junguiana dos sonhos, arrisco-me a dizer, em geral todo
personagem simbolicamente representa o próprio sonhador. Assim, como
num sonho, os elos dessa corrente de cegos representam um ser único,
que reúne
em si mesmo aquele que sugere a ideia nefasta e também o que a
aceita.
Diante
de momentos dolorosos, cuja saída
parece-nos impossível,
imobilizamo-nos,
sentimo-nos atados
e impotentes.
O Enforcado oferece-nos a libertação,
sugerindo-nos rever
a situação,
questionar
a real origem dessa imobilidade ou sujeição
e refletir sobre o fato de que, muitas vezes, um aprendizado
genuíno demanda a aceitação e certos abandonos,
em
prol da conquista da autonomia e de uma evolução verdadeira.
Traduzindo
pela própria imagem acima, a verdade é que, antes do último cego
pensar que só o que pode fazer é aceitar fazer parte da fila,
deveria admitir
que o faz unicamente porque recusa-se
a aceitar sua limitação e a lidar com sua realidade presente;
no fundo, ele "quer porque quer" seguir a qualquer preço.
Bem,
quando, renitentes, acionamos caminhos baseados no que "queremos
porque queremos", sem a ponderação prévia dos seus efeitos,
das suas reais possibilidades de sucesso etc, quase sempre, adiante,
nos recusamos a assumir a responsabilidade original e preferimos
acusar a outro de ser nosso algoz.
O
arcano XII ensina que, enquanto não olharmos para nós mesmos com
honestidade, aí permaneceremos, eternamente caindo e culpando a
outros pelo nosso infortúnio, quando bastaria apenas admitir
o passo em falso que demos lá atrás e então abrir mão do que não
nos serve mais e que, quase sempre, na realidade nunca nos serviu verdadeiramente.
Ok dona Ivana . Meu comentario falhou terrivelmente pq eu achei que o 1 da fila enxergava . Então , estava cego...rsss... Muito boa toda essa explicação.
ResponderExcluirOi Dalsan,
ExcluirOlha só: não tem "falhou" ou "não falhou"... As reflexões sobre o tarô são uma academia mental...rsrs. São pra treinar a ótica, pra exercitar a arte da reflexão, pra refinar os caminhos do pensar.
O que acho que é legal vc perceber é que, como te comentei antes, vc é mto ávido de ir aos finalmentes...rs. Esse pensamento rápido fez vc descartar informações, como o fato de que o primeiro tb é cego, sem nem perceber. E aí ficar atento em relação a essa característica na hora de lidar com o dia a dia. É assim que a gente transpõe a meditação sobre o tarô para a prática cotidiana, para o mundo concreto.
Bjs
O enforcado, vulgo Mimimimi! rs
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